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Apresentação | Cronologia | Fortuna Crítica | |
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Murilo
Mendes Luis Lopes Coelho Walmir Ayala José Roberto Teixeira Leite Antonio Bento Carlos Zílio Luís Martins Roberto Pontual Mario Schenberg Fernando Sabino Jacob Klintowitz Olívio Tavares de Araújo |
Di Cavalcanti e a Crítica "... A arte de Di Cavalcanti, bem como sua pessoa humana, bem como seu método d ofício, está fundada na liberdade. Uma vocação de liberdade que tem sido a linha dominante de sua vida que fez dele - em certa época o único pintor social militante do Brasil - um revoltado contra as imposições drásticas dos partidos, um homem que sempre examina seus problemas, e que atingiu um elevado nível de consci6encia artística. Debaixo de apar6encias ligeiras, a carreira do Di Cavalcanti tem assumido aspectos patéticos de alto drama intelectual: este homem inquieto tem vivido em encruzilhadas, à procura de soluções plásticas, políticas e críticas, debatendo continuamente o caso do Brasil, o caso da anarquia universal e seu próprio caso que se misturou com outros. Murilo
Mendes A grande força de Emiliano Di Cavalcanti, como artista, é a sua sinceridade e - embora a expressão me cause certa repugnância, pelo excesso com que vem sendo usada - a sua autenticidade. Realmente, não me ocorre outra para exprimir exatamente essa perfeita sincronização do homem com a obra realizada, expressão evidente de uma necessidade vital, na fidelidade com que espelha a grandeza humana de seu criador. Um quadro de Di Cavalcanti - qualquer quadro - é, antes de mais nada, uma projeção de sua sensibilidade e de sua personalidade; e daí, o seu extraordinário fascínio, o seu poderoso encanto, a sua capacidade de encantar instantaneamente a simpatia e a admiração de um público heterogêneo, em que se irmanam solidariamente leigos e entendidos. Diante de bem poucos artistas nacionais se poderia com rigorosa veracidade repetir, como diante de Di Cavalcanti, este aparente lugar-comum, muito menos comum, aliás, do que se imagina: a obra é o homem. Luis Lopes Coelho Di
nos dá na sua pintura, de onde rescendem todas as influências legítimas do tempo percorrido, a dimensão de uma terra pulsante de cor, ingênua e triste. Walmir Ayala Em EMILIANO DI CAVALCANTI encontrou a pintura um de seus maiores e mais originais intérpretes: sensual e expressivo, o fabuloso artista - numa carreira de mais de 50 anos -, vem criando mitos visuais que hão de permanecer como outros tantos pontos altos da arte nacional. Nessas poucas linhas, que não pretendem ser de modo algum uma análise, apenas quero expressar a admiração pelo pintor e o privilégio, que me coube, de Ter por vezes podido desfrutar de sua companhia. José Roberto Teixeira Leite Ao longo deste meio século transcorrido, Di Cavalcanti ocupou um lugar de 1o plano nas artes plásticas do Brasil. Além de idealizar a Semana de 1922, foi ainda o principal responsável pelo surto de uma pintura temática nacional, dominante após aquele movimento. Apesar de suas ligações com a Escola de Paris e o Cubismo, é um pintor profundamente carioca e brasileiro. A sua obra reflete como nenhuma outra, pela extensão no tempo, a vida do nosso povo. O carnaval, o ritmo e a ginga dos sambistas, as baianas, as mulatas capitosas, as mulheres da vida, os passistas, os malandros, os seresteiros, os bailes de gafieira, os trabalhadores, a paisagem, enfim a própria vida do País está presente em sua pintura, que é sempre vigorosa. A sensualidade brasileira está nas linhas, formas e cores, expressionistas de suas telas. E durante o fastígio da abstração, ele foi aqui o seu maior contestador, sendo também o primeiro a viticinar-lhe a próxima decadência. Antonio Bento "(...) O que dará, porém, este clima de sensualidade aos quadros de Di Cavalcanti não será a figura da mulata em si, mas o tratamento que ele dará à pintura e principalmente à cor. A partir de 1926, em alguns trabalhos, como Cinco Moças de Guaratinguetá, nota-se o aparecimento de fortes contrastes cromáticos. No entanto, a cor ainda está dependente do desenho, uma vez que predomina o cuidado na relação entre os volumes e os planos. Carlos Zílio "(...)
quando assinala a tendência de Di Cavalcanti para o fauvismo, acentua Sérgio Milliet seu caráter instintivo. Mesmo certas aproximações expressionistas, evidentes e incontestáveis em alguns quadros da época, seriam meras coincidências, isto é, seriam menos derivadas de uma consciente filiação escolástica do que a indisciplinada, intuitiva e heróica necessidade de destruir, de negar, de contradizer todo o formidável acervo de banalidades e lugares-comuns que entupiam museus, salas de exposições e paredes de salões particulares no ano do centenário de nossa independência. Era um expressionismo natural e impulsivo, nascido da necessidade de satirizar, de combater e demolir a deformação que derivava da violência da caricatura, forma de combate que constituiu uma reação instintiva do inconformismo e da rebeldia (...). Assim como o seu expressionismo era uma forma de manifestar socialmente sua inadaptação à rotina, o seu fauvismo seria a necessidade de contradizer o habitualmente feito e passivamente aceito (...)." "Talvez mais do que a sua própria obra de pintor e desenhista, observada isoladamente, é a totalidade do ser humano que passou um dia, muito cedo na vida, a assinar-se Di Cavalcanti, que se instaura como símbolo no modernismo brasileiro. Isso se acentua pelo fato de sua presença nunca ter-se restringido à área exclusiva das artes visuais, abrangendo também a prosa e a poesia, a ponto de ele preferir que o considerassem não como um pintor, mas como um intelectual que pintava. Por pretender agir sobre o mundo como algo mais do que as tintas e os pincéis, foi que ele logo se integrou, cabeça e mãos, na inteira militância contra o academismo amorfo na pintura e contra a rigidez parnasiana na literatura (...)." "Di tinha um senso de humor muito rico, e muito sutil também. Em todos os momentos ele utilizava as circunstâncias como uma forma de exprimir o seu humor. Com isso ele foi, de certo modo, o precursor de algumas tendências muito modernas da antiarte, se bem que esse aspecto da sua obra tenha passado muitas vezes despercebido. Fazia por exemplo esse quadro propositadamente 'matado' em que a finalidade não era o quadro, era o gesto; e essa importância do gesto na sua atividade está muito relacionada com certos aspectos da arte conceitual. (...) Para uma avaliação da obra pictórica de Di Cavalcanti talvez ainda nos falte uma perspectiva histórica. Na minha opinião, uma das coisas mais importantes em Di foi a sua contínua preocupação em fazer uma arte brasileira, ligada aos aspectos cotidianos da vida brasileira e procurando através deles definir a nossa identidade cultural. Esta tendência foi tão forte nele que não conheço qualquer trabalho de Di Cavalcanti que não a reflita, não reflita esta preocupação. Qualquer trabalho de Di, bom ou ruim, é um trabalho brasileiro." "Não tenho lembrança de quando o conheci. Ali por volta de 1943, 44. Desde então nos tornamos amigos à distância ao longo de encontros no Rio, em São Paulo, em Paris ou em Londres. Ele costumava aparecer no Alcazar, onde tomávamos chope quase todas as noites. Amigo de Rubem, Vinicius, Moacir Werneck, Carlos Lacerda. Como continuava sendo de Villa-Lobos, Jayme Ovalle, Ribeiro Couto, Dante Milano - os de sua geração. Era o único artista plástico que freqüentava nossa roda de escritores. Quem o visitar hoje no seu apartamento na Rua do Catete compreenderá logo por quê. Para começar são dois apartamentos ligados pela área de serviço, completamente diferentes um do outro, como se pertencessem a dois moradores. Um abriga o pintor, o outro, o escritor... Emiliano Di Cavalcanti
foi um jornalista do traço, um registrador, um irônico testemunho. Mas, também, um afetuoso contemplador das coisas nacionais, das fraquezas brasileiras, nas quais ele, afinal de contas, também se comprazia. Emiliano Di
Cavalcanti, famoso pela sua maneira sensual e plástica de pintar, pouca gente sabe, começou como desenhista e ilustrador. Os seus desenhos estão entre o que de melhor já fez e marcam decisivamente uma época de nossa história. "Tinha prazer com o ato de pintar e não se preocupava em alcançar a cada vez a obra-prima; queria basicamente expressar-se. Nos anos 20 e 30, sua produção é mais homogênea; nos 40 e 50, surgem numerosas e famosas obras magistrais; dos 60 em diante, elas se tornam raridade. |
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